— Thaylla Barros
Minha pesquisa nas artes é um mergulho e união entre ancestralidade, resgate, simbologias, grafismo e território, além da exploração das cores e das sensações que emergem dessa jornada. Gosto de perceber como esses elementos históricos e culturais podem ser reinterpreta- dos e revitalizados através da arte, criando um diálogo e conectando o passado com o pre- sente. Minha prática busca explorar e expressar essas interações de maneira impactante.
Trabalho com várias linguagens artísticas, incluindo graffiti, muralismo, pintura em tela, arte digital e, mais recentemente, estou apro- fundando meus estudos em escultura. Cada uma dessas mídias oferece uma perspectiva única e contribui para uma abordagem multifacetada do meu trabalho, permitindo explorar diferentes aspectos da minha pesquisa e comunicação visual.
Minhas referências são amplas e uma ferramenta para refletir e conectar com minha identidade, envolvendo influências culturais e pessoais; essas referências muitas vezes vêm de pesquisas extensivas desde tradições artísti- cas indígenas e africanas até as criações contemporâneas, editoriais e moda. Sou atraída por cores vibrantes e contrastantes que causam um impacto imediato, a estética que busco é aquela que combina intensidade visual com uma narrativa profunda.
Estabeleço uma relação íntima entre arte e corpo, evidenciando que o corpo não é apenas uma ferramenta de expressão e de interação com a arte, mas também o sujeito principal dela. Minhas obras são figurativas, com a figura humana em destaque em que a corporeidade se entrelaça com a ancestralidade, por meio do uso de ângulos, perspectivas e elementos naturais, criando representações que sejam tanto visuais quanto emocionais. Para mim, esses temas estão profundamente entrelaçados e refletem a com- plexidade da identidade e da memória cultural.
› Thaylla Barros, Futuro ancestral, 2024. Tinta acrílica e nanquim sobre tela, 60 × 80 cm. Foto: Joana Flor
› Thaylla Barros, Solo fértil, 2024. Tinta acrílicae nanquim sobre tela, 60 × 80 cm. Foto: Joana Flor
› Thaylla Barros, Sem título, 2024. Tinta acrílicae nanquim sobre tela, 60 × 80 cm. Foto: Joana Flor
Como a maioria da população brasileira, parto de um apagamento cultural, territorial, familiar, e na minha prática artística busco resgatar e afirmar esse contexto, por isso as paisagens que crio são uma mistura de imaginário, invenção e memória. No início de um trabalho, busco referências visuais que servem de ponto de partida. Durante o processo criativo, as memórias e a criatividade se entrelaçam, resultando em uma obra que é, ao mesmo tempo, particular e pessoal, mas também universal. Essas paisagens são um reflexo das experiências internas e externas, criando um espaço em que o real e o imaginário se encontram. Em resumo, meu trabalho é uma contínua exploração e celebração das conexões entre passado e presente, corpo e território, cores e simbologias, utilizando diversas linguagens artísticas para criar um impacto visual e emocional.
› Thaylla Barros em collab com Leen Vandal, CUMÉKI4GENTEFIK4?, 2024.
Tinta acrílica e nanquimsobre tela, 60 × 80 cm.
Foto: Joana Flor
A colaboração na série Tudo nosso foi uma experiência crucial e reveladora. Esse projeto, que começou a ser desenvolvido em 2018 e amadureceu ao longo do tempo, surgiu de uma colaboração anterior com o músico Júlio Rhazec, que se apresentou na minha primeira exposição. Dessa vez, nossa intenção era criar uma experiência imersiva que combinasse elementos visuais e sonoros. A criação de uma paisagem sonora foi essencial para aprofundar a experiência sensorial e emocional do público, permitindo uma interação mais rica e envolvente com o trabalho.
› Vista da exposição, Tudo nosso, La Casa Comunitária, São José dos Campos (SP), 2024. Foto: Joana Flor
Thaylla Barros
Thaylla Barros, 1995, é multiartista nascida no interior do Maranhão e residente no interior de São Paulo. Desenvolve pesquisa artística em sintonia com suas crenças e valores sociais afetivos, a partir da narrativa de um corpo nordestino, negro e com provável descendência indígena. Como artista independente tem o comprometimento de realizar uma arte que acredita ser necessária. Atua desde 2014 no meio artístico e da arte educação. Já recebeu dois prêmios de Trajetória nas Artes Visuais, 2020 pela Lei Aldir Blanc e em 2023 pela Lei Paulo Gustavo. Realizou a exposição individual Motumbá: Boa fé pra quem é de boa fé (2018, 2020); e participou de outras coletivas: CUMÉKI4GENTEFIK4?, Origens, Matrizes (2024), Expressão feminina (2023), Ocupação Poente (2022), O primeiro ano do resto de nossas vidas (2021); além de coletivas em outros locais como: Olhares do Brasil em Brasília-DF (2023), na Pose Cultural Art Gallery, em Chicago-IL (2022). Já participou de projetos realizados para o Sesc e IDDH Joinville.
Comments