— Célia Barros e Gabriela Leirias
Corpo: Território vasto, amplo e ínfimo, íntimo e político, micro e macro cosmos.
Cria mundos e dimensões. Escala primeira reveladora de relações. Relacional, complexo, multiespécies, o futuro e o ancestro, o material e imaterial. Deslocamentos e permanências, gerações e ruínas, fins, morte e criação.
Sim, talvez um campo infinito de relações.
O que pode um corpo? Corpas, corpus.
Gerações e metamorfoses.
Para Emanuelle Coccia, mortes, como proliferação de outras vidas, para Achille Mbembe, submetido à lógica de necropolítica.
Corpo: Artistas criam sempre a partir de sua dimensão, percepção, esquadro, lente, perspectiva.
O deslocamento do corpo no espaço tem dimensão poética-crítica-política. E os corpos atuantes nestes caminhares sua relação com o território. Relação que cria uma geografia experimental, como sugere Trevor Paglen, na medida que quem modifica o espaço também é modificado por ele.
Reivindicando uma corporeidade que cria distância de uma existência segmentada, em que o imaterial e o mental estariam em posição hierárquica, artistas têm feito uso do próprio ser como matéria plástica. Nesta edição em particular, falar do corpo é falar de subjetividade, mas também de contexto social.
Veremos que uma pesquisa dificilmente se dissocia da vivência particular e como as narrativas que a compõem trazem para a cena o que geralmente descartamos e silenciamos como sociedade.
Elidayana Alexandrino nos provoca com seu projeto Narrativas que se encontram, um diálogo de longa duração com a imagem, a partir de processos educativos. Questionar a imagem é um exercício que a artista e educadora promove em laboratórios dialógicos que atravessam narrativas impostas e naturalizadas pelo status quo.
Numa encruzilhada diaspórica que envolve suas origens japonesas e a identidade caipira e indígena, Allan Yzumizawa traça um percurso biográfico em que seu corpo vai perdendo a neutralidade a que a vivência acadêmica nos condiciona, corporificando seus projetos curatoriais.
Em uma prosa intensa e generosa, Vicenta Perrotta, Luara Souza e Antonia Moreira do Ateliê TRANSmoras nos dão a oportunidade de refletir sobre a violência do descarte na alienação coletiva que a indústria da moda promove.
Mesclando biografia, pesquisa, amplitude da vida profissional e maternidade, Maíra Freitas nos convida a percorrer o tempo que entrelaça os sentidos de suas propostas artísticas, curatoriais e educativas.
Esse formato biográfico volta a ser ferra- menta para Janaú, que nos convoca para uma outra dimensão de corpo e de diálogo.
Na entrevista realizada por Fernanda Albuquerque a Gui Teixeira, surge outro campo de entendimento do corpo: o jogo, o risco e a coletividade como aprendizagem pelo brincar.
Carolina Sudati e renat castillo trazem-nos de maneira muito diferente relações do corpo com a paisagem, a prótese como extensão corpórea que questiona territórios e performances de gênero. Em Tudo nosso Thaylla Barros faz a retomada.
Praticantes do caminhar como modo de existir, acompanhamos leituras e proces- sos criativos que se desdobram poética e imageticamente. Em DESLOCAMENTOS Célia Barros aborda esta prática desde a perspectiva do corpo feminino, encon- trando fronteiras e limites que precisam ser contornados e evidenciados.
Nesta edição o percurso abraçou territórios íntimos evidenciou a impossibilidade de se mover na pesquisa e na investigação poética desconsiderando os traços biográficos, as escolhas de percursos e as ancestralidades, conhecidas, pesquisadas, imaginadas. Adentramos estes territórios porosos e convidamos a quem lê vivenciar estas paisagens internas e externas que o caminho da arte pode propor.
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